Cuidadinho com o triunfalismo

Em MundoGaliza • Em Diário Liberdade • Em Galiza Livre

O problema do triunfalismo é que, quando não triunfa, a queda é mais dura. Refiro-me à denegação, por parte do Tribunal Superior de Justiça da Galiza, da “suspensão cautelar” do Decreto do Plurilingüismo do PP solicitada no recurso interposto pola Mesa pola Normalización Lingüística. E é que, verdadeiramente, quando o que separa as concepções da língua dos recorrentes  e dos recorridos é apenas uma letra (poderia escrever-se Mesa po(r)la Normalización Lingüística e lê-lo de duas maneiras), esta lógica judicial não admira. Raios, que fácil demagogia a minha. Por que ignoro deliberadamente que por detrás da MNL há muito mais, muitíssimo mais?: Há uma longa trajetória de propaganda. Há uma defesa incondicional da totémica palavra “normalización”, nos dous idiomas, a mesma que Lorenzo se encarregou de substituir por “dinamización”, nos dous idiomas. Há uma aceitação do quadro jurídico da linguicida Lei de Normalización Lingüística. Há uma falta de projeto de língua nacional. E há uma secular política de exclusão duma dada visão desse projeto de língua (língua) nacional (nacional). Na MNL, e por detrás, há um caduco discurso sobre direitos, identidades, pátrias, imanências e vitimismos em que, à luz do totum revolutum atual, até pretendem introduzir os discursos da RAG e do CCG. Mas não há um projeto de língua nacional. Não admira que o TSJG reafirme que é tão legal meio-promover o galego, como fez o Bipartido, quanto meio-eliminá-lo, como faz o Unipartido.

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Um mês sem Vieiros

Em MundoGaliza • No Xornal de Galicia

Às vezes, na rotina dos dedos e da mente que repetem velhas ações, como se a vida nos levasse a nós e não o contrário, diante deste ecrã que me visita, clico com antecipação na frase inscrita no meu computador que conduz a Vieiros, a esses velhos vieiros que ocupámos. E aí chego, e aí permanece o seu daguerrotipo, intacto desde o 24 de julho de 2010, detido nas últimas palavras coletivas. Observo-o e releio segmentos com nostalgia, admito-o. Ou talvez o confesse. Porque –pergunto-me–, por acaso deveria sentir um inútil pudor ideológico por esta saudade ao saber que Vieiros não era, apesar de tudo, o meu projeto? Deveria procurar entender alegadas razões políticas que, dalguma maneira sempre maléfica na nossa terra, justificariam o seu desaparecimento? Até onde deveria esticar um purismo sobre não sei o quê, que me resulta difícil? Nem sei, nem sei se deveria. Apenas sei que admito –talvez confesse– a nostalgia. E pergunto-me, isso sim, sempre, pergunto-me se o mesmo amplo laio grupal se daria se, por motivos comparáveis (afinal, a força do material), nalguma altura tivesse que desaparecer alguma outra velha companhia nossa, também fundamental na sua parcela e no seu alvo, como o Portal Galego da Língua. Calculo que não haveria tal lamento grupal, porque um número grande de pessoas situaria uma dada lealdade por cima da manifesta importância social do Portal. Eu nego-me a tal exercício especular com a morte certa de Vieiros, que, apesar de tudo, repito, não era de todo o meu projeto.

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A tentativa de nos reenquadrarem a língua

No Portal Galego da Língua • Em Diário Liberdade

     Recentemente assiste-se a um certa tentativa de reenquadramento dos conflitos linguísticos no Estado Español em várias espécies.  Desde o “progressismo” centrista faz-se, por exemplo, em termos do apelo a uma “diversidade” semelhante à exuberância da flora tropical. É um discurso velho e novo ao mesmo tempo. Velho, porque se recolhe também nessa pretensa proteção da “riqueza das modalidades linguísticas” que está na Constitución Española e em tanto discurso, também progressista, que não compreende ou não quer compreender o que é um projeto de construção de língua nacional. E novo porque, em lugar de atacar frontalmente os projetos de intervenção (pouca gente ousa dizer, por exemplo, que o galego “não serve para nada”), estes são reduzidos à necessidade de medidas locais, parciais, sempre estimadas em termos de necessidades específicas, numa paródia da auto-gestão dessa diversidade. Em poucas palavras: a recuperação das línguas não-espanholas continua a ser folclorizada porque, no fundo, se concebe sempre um quadro linguístico mais amplo (o da Lengua dominante que não precisa de tal intervenção). Mas resulta que nem a Galiza, nem Catalunha, nem o País Basco, nem o País Valenciano, etc., são sociedades tribais com o que se chamam heritage languages (“línguas de herança”) que um feixe de índios conscientizados ensinam em locais provisórios como puro “património simbólico”.

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Não ao 25 de julho

Publicado em Vieiros • Em Diário Liberdade • Em MundoGaliza

Por que um Não firme ao 25 de julho? Porque já é hora de dizê-lo. Esse apóstolo construiu uma Galiza inexistente. Só nos países estranhos, como este, a festa coletiva é também a festa do patrono do poder. Patrono de pátrias compatíveis. Muro com muro, na mesma porta a que chegará Ratzinger, pola que entrará um Borbón para ganhar (ganhar) prebendas, dentro duma semana haverá milhares de pessoas com bandeiras compatíveis.
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Contrastes de línguas e nações

Regressando da Catalunha depois duns dias de lazer compreendo mais uma vez os contrastes constitutivos entre duas nações, aquela e esta, tão diferentes mas unidas numa questionável aliança contra um estado central que, entre outras formas de miragem, foi capaz de produzir até o pretenso antídoto Galeusca. Na Catalunha, não apenas as pequenas lojas fazem rotulagem na língua do país: também as grandes companhias (aéreas, por exemplo) convocam e convidam a cidadania em catalão. Na Catalunha, não apenas jovens com consciência linguística patente utilizam o idioma: grupos de raparigas pré-adolescentes brincam na rua na língua antiga.

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A crise da língua e um futuro possível

Publicado em Novas da Galiza 90, 15 de maio – 15 de junho de 2010, p. 20

Na crise sociolinguística atual da Galiza convergem desde há aproximadamente ano e meio vários processos: (1) A evidente perda de falantes e de usos do idioma, refletida, por exemplo nos dados mais recentes do Instituto Galego de Estatística; uma estimativa própria sugere que, a este ritmo, os usos do galego passariam a ser minoritários nuns três ou quatro anos. (2) A legislação regressiva em Política Linguística, com a supressão fulgurante das Galescolas, a eliminação da prova escrita obrigatória em galego para o acesso à função pública, a redução de ajudas à tradução e, de maneira singular, o chamado Decreto de Plurilingüismo no sistema educativo não universitário. E (3) um debate público sobre a língua no qual, apesar das aparências de resistência, se pode detectar a cedência do galeguismo perante as formulações minoritárias do españolismo, nomeadamente com a relevância crescente (mesmo para criticá-la) da fantasmagórica noção de “imposición del gallego”.

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Corrupção, consenso e política linguística

Publicado no Portal Galego da Língua • Em Vieiros

     Em textos anteriores (“Língua, Mercado e liberdade”, “O conflito linguístico só tem uma saída”, “Contra a utilização dos ‘direitos linguísticos'”, “Bilinguismo zumbi e crise sociolinguística”) tenho apontado que a história da política linguística na Galiza se deve examinar como a articulação de três dicotomias entrecruzadas: o âmbito público frente ao privado; a dimensão individual frente à coletiva; e os direitos frente aos deveres. Hoje, a máxima expressão desta dialética múltipla na crise sociolinguística é o conflito entre deveres públicos coletivos a respeito da língua e direitos privados individuais, por exemplo os “direitos” dos e das estudantes do nosso sistema educativo.

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O Mito das Portas Singulares

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Para os mestres da escrita e da política

No primeiro dia de escola, a estudante foi levada pelo mestre perante duas portas paralelas rotuladas “G” e “E” que davam para um jardim exterior. Primeiro o mestre deu-lhe uma grande chave antiga em forma de E, com elementos modernos. “Toma”, disse ele. “Com ela aprenderás a abrir a porta E.  Não é fácil: há que dar certos giros na ordem precisa”. “Por que tenho que aprender?”, perguntou ela. “Assim está ordenado. O teu dever é saber abri-la”. O mestre continuou: “Fora encontrarás um espaço imediato, cercado pela direita com amplas portas de cristal, que dão para um mundo muito mais amplo. Também poderás chegar ali”.  “E como abrirei as portas grandes?”. “Com a mesma chave. O fecho é o mesmo”.

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Rosa Díez insultou deliberadamente

Publicado em Xornal • Em Vieiros

Está fora de dúvida que a utilização do vocábulo “gallego” por Rosa Díez para desqualificar Zapatero na entrevista que lhe fez Iñaki Gabilondo ofendeu milhares de pessoas. A questão é se se pode estabelecer com suficiente certidão que a ofensa coletiva de Díez foi deliberada, e que portanto as suas pretensas justificações posteriores reforçam o insulto. Após examinar o desagradável diálogo muitas vezes, penso que se pode determinar isso.

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