Um mês sem Vieiros

Em MundoGaliza • No Xornal de Galicia

Às vezes, na rotina dos dedos e da mente que repetem velhas ações, como se a vida nos levasse a nós e não o contrário, diante deste ecrã que me visita, clico com antecipação na frase inscrita no meu computador que conduz a Vieiros, a esses velhos vieiros que ocupámos. E aí chego, e aí permanece o seu daguerrotipo, intacto desde o 24 de julho de 2010, detido nas últimas palavras coletivas. Observo-o e releio segmentos com nostalgia, admito-o. Ou talvez o confesse. Porque –pergunto-me–, por acaso deveria sentir um inútil pudor ideológico por esta saudade ao saber que Vieiros não era, apesar de tudo, o meu projeto? Deveria procurar entender alegadas razões políticas que, dalguma maneira sempre maléfica na nossa terra, justificariam o seu desaparecimento? Até onde deveria esticar um purismo sobre não sei o quê, que me resulta difícil? Nem sei, nem sei se deveria. Apenas sei que admito –talvez confesse– a nostalgia. E pergunto-me, isso sim, sempre, pergunto-me se o mesmo amplo laio grupal se daria se, por motivos comparáveis (afinal, a força do material), nalguma altura tivesse que desaparecer alguma outra velha companhia nossa, também fundamental na sua parcela e no seu alvo, como o Portal Galego da Língua. Calculo que não haveria tal lamento grupal, porque um número grande de pessoas situaria uma dada lealdade por cima da manifesta importância social do Portal. Eu nego-me a tal exercício especular com a morte certa de Vieiros, que, apesar de tudo, repito, não era de todo o meu projeto.

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A tentativa de nos reenquadrarem a língua

No Portal Galego da Língua • Em Diário Liberdade

     Recentemente assiste-se a um certa tentativa de reenquadramento dos conflitos linguísticos no Estado Español em várias espécies.  Desde o “progressismo” centrista faz-se, por exemplo, em termos do apelo a uma “diversidade” semelhante à exuberância da flora tropical. É um discurso velho e novo ao mesmo tempo. Velho, porque se recolhe também nessa pretensa proteção da “riqueza das modalidades linguísticas” que está na Constitución Española e em tanto discurso, também progressista, que não compreende ou não quer compreender o que é um projeto de construção de língua nacional. E novo porque, em lugar de atacar frontalmente os projetos de intervenção (pouca gente ousa dizer, por exemplo, que o galego “não serve para nada”), estes são reduzidos à necessidade de medidas locais, parciais, sempre estimadas em termos de necessidades específicas, numa paródia da auto-gestão dessa diversidade. Em poucas palavras: a recuperação das línguas não-espanholas continua a ser folclorizada porque, no fundo, se concebe sempre um quadro linguístico mais amplo (o da Lengua dominante que não precisa de tal intervenção). Mas resulta que nem a Galiza, nem Catalunha, nem o País Basco, nem o País Valenciano, etc., são sociedades tribais com o que se chamam heritage languages (“línguas de herança”) que um feixe de índios conscientizados ensinam em locais provisórios como puro “património simbólico”.

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