O país da semi-língua

Publicado em A Nosa Terra 623, 26 Maio 1994, p. 28

Paul Éluard disse: há outros mundos, mas estão neste.

O nosso país é já dous países: um país com semi-língua e um país com língua própria. O país com semi-língua tem limites precisos, Norte e Sul, é como uma borda, como a membrana duma célula, como uma contínua periferia. Porém, o país com língua própria mora dentro do outro, e também fora, em zonas irregulares e cambiantes, em redes esporádicas que medram, constituindo territórios fugazes cada vez mais sólidos, sedimentando-se na consciência colectiva de falar. O país com semi-língua é reconhecível desde fora, tem marcas registadas, hinos e bandeiras, vistosos líderes registados, estabelece relações com outros mundos registados, limita. Porém, o país com língua própria não limita, é errante, não tem hinos, nem privilégios, e os seus poucos líderes são pobres líderes, líderes falsos que talvez desejariam só ser líderes registados do outro país, do país com semi-língua.

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