Há muitos anos, quando eu era criança e adolescente, no prédio antigo onde morava havia uma porteira, uma mulher maior muito miúda, viúva, e às vezes não muito simpática a quem chamarei Caridad. Ocupava, no baixo interior, uma vivenda pequena e bastante obscura de um par de quartos de chão de azulejo, cozinha e banho, a custo da comunidade de vizinhos, além de receber um soldo. Entre as suas tarefas estava manter a limpeza do formoso edifício, dar algum recado ou recolher algum envio, prender a caldeira comunal de carvão para a calefação central, e, singularmente, salvar-nos dos não infrequentes atascos do elevador Schneider. Quando ficava parado entre pisos e entre paredes, talvez tocássemos um alarme que não sei se soava (se marchava a luz sem dúvida não), mas o mais efetivo era simplesmente berrar “Ascensoooor!” até que Caridad escutava, subia sete andares polas escadas, e dava-lhe com esforço a uma enorme manivela manual para ascender a caixa do elevador até a altura dum piso onde se pudessem abrir as portas. Depois pendurava na porta do ascensor o sucinto cartaz NO FUNCIONA, mas entre aspas, isto é: “NO FUNCIONA”. Essa foi a minha primeira exposição ao “uso” “gratuíto” das “aspas” para enfatizar “qualquer” “cousa”, que tanto floriu e ainda perdura.
Masculino genérico: O homem
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O homem é um animal racional.
O homem é um mamífero.
O homem é um mamífero bípede que menstrua, fica grávido, pare e amamenta os filhos.
Mas o homem é um animal que submete a metade de si próprio. O homem que não amamenta os filhos submete o homem que amamenta. O homem que não fica grávido impede que o homem grávido deixe livremente de estar grávido. O homem sem hímen valora muito o hímen do homem com hímen.
Em muitas sociedades o homem só deixa que casem dous homens quando um dos homens é homem e o outro não é homem. Mas o homem não deixa dous homens que são homens casarem, nem dous homens que não são homens.