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O problema do triunfalismo é que, quando não triunfa, a queda é mais dura. Refiro-me à denegação, por parte do Tribunal Superior de Justiça da Galiza, da “suspensão cautelar” do Decreto do Plurilingüismo do PP solicitada no recurso interposto pola Mesa pola Normalización Lingüística. E é que, verdadeiramente, quando o que separa as concepções da língua dos recorrentes e dos recorridos é apenas uma letra (poderia escrever-se Mesa po(r)la Normalización Lingüística e lê-lo de duas maneiras), esta lógica judicial não admira. Raios, que fácil demagogia a minha. Por que ignoro deliberadamente que por detrás da MNL há muito mais, muitíssimo mais?: Há uma longa trajetória de propaganda. Há uma defesa incondicional da totémica palavra “normalización”, nos dous idiomas, a mesma que Lorenzo se encarregou de substituir por “dinamización”, nos dous idiomas. Há uma aceitação do quadro jurídico da linguicida Lei de Normalización Lingüística. Há uma falta de projeto de língua nacional. E há uma secular política de exclusão duma dada visão desse projeto de língua (língua) nacional (nacional). Na MNL, e por detrás, há um caduco discurso sobre direitos, identidades, pátrias, imanências e vitimismos em que, à luz do totum revolutum atual, até pretendem introduzir os discursos da RAG e do CCG. Mas não há um projeto de língua nacional. Não admira que o TSJG reafirme que é tão legal meio-promover o galego, como fez o Bipartido, quanto meio-eliminá-lo, como faz o Unipartido.
Cúmplices disto, claro, são os setores do galeguismo que promoveram Lorenzo até ao cadeirão onde está. Sabe-se quem são. O que não se sabe ainda é que obterão disto exatamente: as últimas migalhas do banquete de despedida? O que não se sabe é, também não, por que outros setores mais “à esquerda” o permitiram. Esperam obter os restos das migalhas? Lamento ter que ser, de novo, o incomodamente inútil advogado do diabo, esse que ganha a crítica do galeguismo por malcriado e a inimizade do españolismo por radical xenolinguista. Mas, durante estes meses, em desconhecidos textos e comentários cá e acolá (procurem em Google se têm curiosidade: não vos há tempo), imaginei que o Decreto não ia ser declarado nem ilegal, nem anti-estatutário, nem inconstitucional. Ainda não há sentença sobre outros recursos, mas por agora, infelizmente, levo razão. O Decreto é, evidentemente, contrário à Declaração Universal dos Direitos Humanos, mas a unânime Resistência Galeguista (a visível, a que se agocha por detrás da porta do gabinete do Poder para meter a patinha logo que pode e ficar dentro) nunca pensou nesses termos: se pensasse nesses termos, deveria começar a interrogar o que ela própria leva fazendo durante décadas com os “minoritários lusistas”.
Poderá continuar o exercício da miragem da resistência, poderá. Dá proveitos: alguns pedaços de coluna nos xornais (sic) bilíngues, uma profusão léxica digna dos anos do Franquismo, um são excesso de cânticos pulmonares, que levantam o espírito. Mas não leva a nenhures. O Decreto do Plurilingüismo combate-se compreendendo de vez que neste país há um diálogo impossível (e portanto imaginário), e um outro não só possível, mas necessário: o diálogo para obtermos a hegemonia social e jurídica da língua (nacional, não autonómica), não o perdão nem a tolerância. Se a MNL fosse o partido político que é, os milhares de pessoas que entoavam o submisso lema “Queremos Galego” em Compostela já estariam a pedir cabeças.
Quando se joga com lume, o triunfalismo é o começo da derrota, e a cautela é a aliada do triunfo. Digo eu que haverá que procurar novos caminhos. Há meses, e há dias, na Catalunha milhares de pessoas procuravam proclamar que, quando uma Lei não serve, não serve (chame-se Constitución, Estatuto ou Lei de Normalización Lingüística). Esta decisão do TSJG é fruto destas leis, não uma deturpação. Porque no jogo do possibilismo vão ganhar sempre os que são mais possíveis. Eu, pessoalmente, prefiro adaptar aquele insolente ditado de Bakunin, mas, no século XXI, em coletivo: “Continuaremos a ser pessoas impossíveis até que os que agora são possíveis deixem de ser possíveis”. Raios, de novo a demagogia barata (como diz Lorenzo), em lugar da responsabilidade de Estado, de Política, de Partido. Com razão este texto nunca aparecerá em papel (o que se lê nos bares, não em pixeis durante o trabalho de burocrata) no único jornal do bicefálico (Coca-Cola, Pepsi-Cola) Grupo San José. Ou sim?
Concordo “radicalmente” com o que expões, explicas, razoas. O perigo grave não é a letra, mas a música: Tanto tem cantar o “Himno nacional” com a letra pemaniana quanto com outra, inventada ao caso. O “Himno nacional” continua a ser igualmente bourbónico, exclusor, linguicida… “linguadicida” (exterminador dos “linguados”, apenas potenciador dos “lenguados”, das “instituciones lenguadas” e dos “súbditos lenguados”).
Enfim, continuemos, mentres nos seja possível… e não nos exterminem os “lenguados”, reino, bourbon, Zapa, Rajoy, Feijoo…