Encomendado para a revista Desescreber (Faculdade de Arquitectura, Universidade da Corunha), nunca publicada
A prática de escrever supõe uma abstracção de várias dimensões da língua, e uma translação, para um canal físico, dos conceitos ou dos sinais acústicos das línguas orais ou as imagens visuais das línguas gestuais. Neste sentido, a escrita é o que se chama um sistema de segunda ordem a respeito da fala (nenhum povo tem escrita sem fala, mas muitos povos não desenvolveram nunca formas de escrita para o seu idioma). Na cadeia de socialização que supõe a alfabetização e a carreira (literalmente) educativa, a língua escrita chega a naturalizar-se até ao ponto de que poucas vezes reflectimos sobre a sua arbitrariedade inerente. Os diversos sistemas de escrita passados e actuais de múltiplas civilizações mostram a imaginação e o senso prático dos humanos para a tarefa de transmitir sentidos.