Escrito em Berkeley, EUA • Publicado em A Nosa Terra
Há pouco dizia-me uma amiga que os meus escritos eram ambíguos demais e, polo tanto, fascistas. Talvez isto seja porque a linguagem possui um defeito irresistível que é a nossa arma e a nossa perdição: confere um falso sentimento de certeza. Em realidade as palavras, supostas representações de conceitos, situam-se em pontos diversos dum imaginário espaço sem fronteiras. Mesmo é frequente que uma palavra ocupe mais dum lugar figurado simultaneamente. Mas um hábito nosso bipolar e maniqueu, que nos ajuda a dar-lhe sentido à irregularidade social, tende a assignar-lhes às palavras conteúdos absolutos, a afastá-las a um lado ou outro da conveniente mas arriscada dicotomia verdade/falsidade.