As forças de segurança do estado, isto é, o serviço privado de repressão do capital, acabam de deter quatro pessoas na Galiza acusadas de pertencerem à fantasmagórica operação de Fake Reality Show Resistência Galega. Esta fase do relato por entregas chama-se, inteligentemente, “Operación Lusista”. Será porque essas pessoas independentistas colocam o circunflexo em Resistência. Então, que tenha muito cuidado a imprensa do regime — que já passou a qualificar as quatro pessoas de “terroristas” sem aguardar a sentença da Audiência Nacional — em colocar bem o circunflexo, ou qualquer dia os gorilas do capital detêm pessoal do ILG por serem de Resistencia (sic) Galega na “Operación Isolacionista”.
Sim, as pessoas lusistas somos terroristas. De há décadas colocamos a boina circunflexa sobre toda palavra bem soante que produz o reino: audiência, resistência, insurgência e… paciência, muita paciência. As pessoas lusistas somos terroristas das letras que levamos décadas chinchando a bem-soância mesetária (a das séries de TV onde os narcos falam aranjuezano, a dos oportunistas filmes que tratam as líderes de Resistência Lesbiana Elisa e Marcela como se fossem señoritas de colégio maior burgalês). Levamos décadas sendo qualificadxs, classificadxs, insultadxs, ironizadxs, perseguidxs e (agora se vê) detidxs por colocarmos a boina circunflexa da duvidosa “resistência” (quando raios aprenderemos que “resistir” não é suficiente) em lugar do tricórnio nasal palatal da saña, da calaña, de España.
Muito bem. Eu pessoalmente não tenho qualquer problema em ser chamado de lusista. Sou lusista. E o poder que me estigmatiza é isolacionista. É assim. Mas oxalá todo o terrorismo se limitasse às letras. O do estado, por exemplo. O do capital. Oxalá todo o terrorismo do reino e do capital consistisse só em querer impor a sua Lengua e as suas letras, o seu tricórnio ortográfico, em lugar do seu tricórnio real, o seu regime de exploração e escravidão, o seu roubo sistemático, as suas armas, o seu discurso supremacista, a sua ideologia predemocrática, a sua manipulação das leis, a sua destruição dos direitos, o seu fracasso histórico como estado: a sua falência, a sua indecência, a sua pestilência.