Publicado em Nós Diario
O ataque de Hamás e outros grupos palestinianos contra a população civil israelita foi terrorismo. Deveu criar enorme terror nas pessoas que fugiam das brutais explosões. Deve ser terrorífico ser refém e moeda de troca dum grupo sabendo que a tua vida pende dum fio. A genocida devastação de Gaza polo exército de Israel é terrorista. O terror permanente rege a vida nos restos da Palestina. Esse terror vê-se nos olhos das crianças trementes que sobrevivem, e ficará marcado por vida.
É terror a perspetiva de morrer de fome e de sede, agonizar sem respirar entre cascalhos, sem medicamentos entre lençóis ensanguentados num hospital aterrorizado. É terror escutar as bombas dos exércitos ucraniano ou russo dentro do tanque como uma tumba móvel, escutar as balas perto dos ouvidos, ver o drone localizador esvoaçando sobre o teu corpo ferido na beira do riacho. Terror é chegar de volta à casa depois da hora injustamente imposta e escutar o homem espetando com voz alcoólica na distância “Onde estiveste??”. O terror dela acumula-se então em paralelo à escalada de ódio dele. A mulher vê a faca do terrorista aproximar-se do seu corpo, dá um grito de terror, morre. O terror sente-se nas ruas policíacas dos impérios. Nos EUA dá terror encontrar nas noites de Chicago ou de Los Angeles um carro de polícias que para ao lado com as luzes. Se és negro e o terror te faz fugir o terrorista do veículo atirará polas costas, cairás morto de terror. O terror da rapariga sequestrada em Ciudad Juárez quando volta da escola é indescritível. A meninha urina-se de terror. Os machos terroristas violam-na repetidamente antes de ocultar o seu cadáver. A família destroçada imaginará sempre o terror final da meninha assassinada. Também aquela rapariga em branco e preto que corria nua a arder em napalm gritava de terror. Também aquele aceno do rosto contraído do resistente vietnamita que sentia a pistola do general terrorista na tempa era de terror. Deveu ser terror um minuto infinito em frente ao pelotão contra o muro da alameda esperando seis balas rumo ao coração desenfreado.
Todos os exércitos do mundo dão terror, todas as bandas armadas e policíacas dão terror, todos os maltratadores e assassinos, todos os violadores, todas as máfias dão terror. A violência sistémica pola expropriação da matéria e a dominação das vidas é terrorista, é ilegal, é um crime contra a humanidade. O terror, não a justiça, é que dá sentido a esta violência, é o seu alimento. Não existe a sensação humana de terror sem terroristas, sem terrorismo, essa palavra, a palavra mais vazia do cinismo político atual.