Há muitos anos, quando eu era criança e adolescente, no prédio antigo onde morava havia uma porteira, uma mulher maior muito miúda, viúva, e às vezes não muito simpática a quem chamarei Caridad. Ocupava, no baixo interior, uma vivenda pequena e bastante obscura de um par de quartos de chão de azulejo, cozinha e banho, a custo da comunidade de vizinhos, além de receber um soldo. Entre as suas tarefas estava manter a limpeza do formoso edifício, dar algum recado ou recolher algum envio, prender a caldeira comunal de carvão para a calefação central, e, singularmente, salvar-nos dos não infrequentes atascos do elevador Schneider. Quando ficava parado entre pisos e entre paredes, talvez tocássemos um alarme que não sei se soava (se marchava a luz sem dúvida não), mas o mais efetivo era simplesmente berrar “Ascensoooor!” até que Caridad escutava, subia sete andares polas escadas, e dava-lhe com esforço a uma enorme manivela manual para ascender a caixa do elevador até a altura dum piso onde se pudessem abrir as portas. Depois pendurava na porta do ascensor o sucinto cartaz NO FUNCIONA, mas entre aspas, isto é: “NO FUNCIONA”. Essa foi a minha primeira exposição ao “uso” “gratuíto” das “aspas” para enfatizar “qualquer” “cousa”, que tanto floriu e ainda perdura.