Na Fábrica da Lingua, propriedade do Estado, trabalharam durante quarenta anos centenas de pessoas. Cada manhã recolhiam pedaços irregulares de fala do chão milenário, faziam simétricos tijolinhos com esta matéria, distribuíam-nos entre elas, e cada tarde consumiam-nos elas mesmas nas casas, nas escolas, e nalguns atos públicos. Os tijolinhos, organicamente, defecavam-se, e pouco tempo depois encontravam-se de novo no chão da terra na forma de pedaços irregulares que havia que voltar a recolher e processar. Durante quarenta anos.