Deus uno e trino, herói uno e trino, rei uno e trino. O império triangular masculino impõe-se desde há milénios sobre a soberania da mente. Dominam as imagens a que, no sossego da inconsciência, rendemos diariamente tributo. Domina essa figura que pode ser simultaneamente severo juiz, pai, assassino, violador. Ele ordena o nosso pensamento triangular. Ele é a presença quotidiana, de que não queremos escapar, porque significaria matá-lo. Matá-lo com a total indiferença. Com a revolta da mente, onde habitam todos os paraísos. Deus e rei, deus e herói, deus e assassino. Criado no sangue, na mitologia do castigo e da vingança. Rei miserável, violador de mentes, homicida, ladrão da liberdade. Órfãs e órfãos, contemplamo-lo como a justificação da nossa própria existência. E justificamos a sua. Sem ele, sem deus, o héroi, o rei tirano, vagaríamos na sombra enfrontados só à pavorosa utopia da igualdade. Deus, rei, herói, ele foi enviado dum lugar distante a este reino. Da terra palestina, dum planeta a extinguir-se, dum país estrangeiro. E foi enviado polo seu pai para salvar-nos. E fez-se humano entre nós durante anos numa humilde granja americana, ao lado do Jordão, numa academia militar. E teve de pais adotivos um granjeiro, um carpinteiro, um general. Tudo para criar o seu reino deste mundo: Megápolis, Palestina, España. O seu reino da Paz, do Bem, da Democracia. E para salvar-nos suportou o diabo no deserto, uma caixa com kriptonita, um golpe de estado militar. E desenvolveu poderes superiores de sanar, de voar, de convocar o exército contra os povos. Deus, rei e herói uno e trino que caíu três vezes e três se ergueu no Calvário, na sua morada no Ártico, numa jornada de caça ou de vela. E morreu e no terceiro dia ressuscitou, foi reimprimido, foi restaurado militarmente. Deus Uno e Trino.