Publicado em Novas da Galiza
Há duas mentiras sobre a língua espalhadas e cridas neste país, desde que começou a perda acelerada do galego há 150 anos, dia arriba, dia abaixo.
A primeira mentira é Em espanhol vive-se melhor. Os pais galego-falantes dirigem-se já em espanhol aos filhos, ou mudam para ele logo que os meninhos começam a voltar da escola falando-o.
Pensam que assim os filhos subirão de classe. Mas não sobem não. A diferença doutros países, na Galiza passar para a língua dominante não cria capital. E não cria capital porque não há classes do capital próprias. se houvesse, polo menos um setor delas falaria galego habitualmente, não é?, perdidinho. A realidade é que os filhos vivem melhor nalguns aspetos porque se vive melhor nalguns aspetos, pior noutros e igual na maioria, fale-se o que se falar. A realidade é que os filhos dos que ocupavam os lugares baixos da infinita pirâmide do Capital continuam a ocupar lugares semelhantes mas… já falam espanhol.
A segunda mentira é O inglês abre-che as portas do mundo. Com isto quer-se dizer as portas do mercado, dos trabalhos, da economia. Na Galiza, isto não é assim. Para as portas da economia se abrirem, tem de haver economia. Tem de haver capital para o inglês ser uma chave, não apenas um amuleto em forma de chave. A realidade é que o inglês mal ensinado e pior aprendido, sem portas que abrir, é basicamente inútil exceto para compreender algo melhor as cançoes de YouTube. Os que estudam inglês aguilhoados polo fulgor do Capital lembram aqueles suarento soldados romanos de Astérix, a carregarem trebelhos a pé polas calçadas: “Ha! Enrola-te, diziam! Verás mundo, diziam!”. O inglês mal ensinado e pior aprendido é uma miragem do peso duma catapulta.
Correm dias em que estas duas mentiras se unem na boca dos pretensos trilinguistas españóis: tudo vale fora de ensinar e transmitir o galego como a nossa sociedae deveria, isto é, como galego=português, Galego igual a Língua Portuguesa. A verdade é que só um ensino baseado no princípio “O galego ou português é a língua do sistema educativo” poderia contribuir para reverter as mentiras.
Que a dupla trola significa “Cuanto menos gallego, mejor” prova-o a fantasiosa proposta de ensinar castelhano, inglês e galego à par. Se não, como se explica que os trilinguistas aceitem um peso menor para o espanhol (digamos, só 33%) do que teria no malfadado Decreto do bipartido? Por acaso o espanhol não corria risco de nem ser ensinado? E agora querem que seja esmagado por uma maioria de duas línguas? Lagarto, lagarto! Esse “trilinguismo” não, thank you. A Galiza preferiria a ignorância de aprender bem só a sua língua. Como diz o outro: Galego Sempre Mais, e depois já falaremos.