Publicado em Novas da Galiza 72, p. 20 • No Portal Galego da Língua
Recentemente teve lugar em Compostela a Sessão Inaugural da Academia Galega da Língua Portuguesa, cujo presidente é o professor José-Martinho Montero Santalha, especialista em literatura medieval (em literatura medieval galego-portuguesa, isto é, em literatura medieval). Esta Academia da Língua reúne e reunirá um bom número de pessoas que levam anos a fazerem trabalho sério e dedicado. Trabalho reintegracionista, como o desta publicação.
Logo saíram declarações, comentários e artigos críticos de membros da RAG, e doutros de fora (desse fora que amiúde é querer estar dentro). Os artigos andam reproduzidos na Internet, por exemplo no Portal Galego da Língua. Eles são apenas algumas amostras do que se manifesta publicamente. E haverá mais críticas.
Por que estas críticas a uma instituição cultural galega nascente? Será porque molesta. Às vezes, até parece que para certo galeguismo a nova Academia da Língua amola mais do que Galicia Bilingüe. A última hora, até será porque Galicia Bilingüe polo menos, propõe o uso duma língua também constitucional e estatutariamente galega (o español, claro), enquanto a Academia Galega da Língua Portuguesa… molesta. Será mais estrangeira que a RAE?
Mas, o quê molesta especificamente da A.G.L.P.? Que se chame “Academia”? Que se chame “da Língua”? Que se chame “da Língua Portuguesa”? Ou que, chamando-se “da Língua Portuguesa”, também se chame “Galega”? Por acaso esta duplicidade não é possível, mas a duplicidade Galicia/Galiza sim? Por acaso estará tão infantilizado o proverbial “Povo” (esse que enche a boca dos políticos e filólogos, isto é, dos políticos) que nunca poderá compreender que a nossa língua galega se chama também internacionalmente língua portuguesa? Quando estará preparado “o Povo” para o presente? Não esteve preparado no século XIX, não lhe deram tempo a está-lo nos anos 1930, não existia durante o culturalismo da pós-guerra, não lhe deixaram estar preparado na malfadada “Transición”… E hoje tampouco? Nunca estará preparado o “Povo” para ter língua? É necessário irmos sempre com a bandeira do adjetivo “galego” por diante, a risco de parecermos horríveis traidores? E, em troca, essa concepção autonomista de Galicia como uma parte da España, não é horrível traição? Expliquem-no em baixinho, que “o Povo” nem escuta.
Mas não se entre em pânico não. Um nome sozinho não muda de imediato a realidade social da língua galega galego-portuguesa portuguesa da Galiza: o seu claro declínio atual. Disto, sem dúvida, não será culpável a nova Academia da Língua. Haverá que procurar as causas do declínio noutros lugares e noutras instâncias para compreendermos a História com a decência inteletual de, polo menos, não morrermos abraçando a mentira, que é pecado.