Publicado em A Nosa Terra
Nestes dous meses de guerra declarada tentei tantos tipos de discursos –internos, às vezes inutilmente públicos como este, às vezes na forma duma dor adolescente– que pude concluir que toda palavra habita no silêncio. Neste triturador silêncio público da sociedade, as numerosas conversas de café ou cerveja com as poucas mentes ainda ágeis que conheço demonstram que a táctica da fragmentação não funciona só nas criminosas bombas da OTAN. Por acaso é possível alinhavar um discurso colectivo a partir das narrações fragmentadas dessa dor impotente? Podem ou querem os partidos assumir essa responsabilidade, reconhecer-se -embora lhes doa aos seus interesses– nessa mítica “vanguarda” da Europa que construía a consciência dos esfarrapados? Indubitavelmente, não: não querem, portanto não podem. Por contra, a figura que emerge desta guerra declarada é a dos Intelectuais Institucionais, esmagadoramente masculinos (como os generais), que representam no calabouço de interrogatório dos jornais os papeis reais do Polícia Bom e o Polícia Mau: Bourdieu contra Cohn-Bendit, Chomsky contra o Estado, os Escritores, as plumas multiculturais que recebem os Prémios Príncipe de Astúrias. No tear das rotativas (não tanto das televisões, porque aí os seus rostos humanos denunciam as mentiras assumidas por uns poucos gravanços), os intelectuais institucionais tecem o discurso fechado da dicotomia e da responsabilidade: impedem efectivamente a circulação da dor, erigem o Manifesto como uma renovada arma de joguete, para cumprirem em conivência com o capital (sim, o capital) o ritual do silêncio, a bolsa de pintura ideológica contra os cérebros humanos.