Publicado em A Nosa Terra 670, 20 Abril 1995, p. 24
Aos represaliados e invisíveis
O chamado «mito de Babel» é sem dúvida um dos instrumentos mais nocivos entre os gerados pola ideologia cristã para impor uma unidade que não temos, e uma das suas falácias mais insidiosas para impedir o raciocínio. A interpretação dominante diz que um deus castigou às gentes pola soberba de quererem ser como ele, e, desde então, fez-lhes falar de maneiras diferentes. Uma leitura alternativa é que já antes de Babel as gentes falavam e escreviam diferente, mas entendiam-se. Foi precisamente o seu projecto comum de se unirem livremente para alcançarem as alturas do saber o que ameaçou o poder desse deus medíocre, inseguro, mesquinho, vingativo, um deus que não merece ser deus dos mortais que queiram ter um deus.